Olá pessoal, espero que estejam bem, muito obrigada por vir aqui conhecer mais esta parte da história.
Antes de mais nada vou explicar brevemente sobre o que pode ser considerado uma crise sensorial. Algumas crianças típicas também podem ter transtorno sensorial, sem serem autistas, então vale a leitura para conhecer um pouco mais sobre o tema.
Crianças atípicas (autistas) costumam ter alterações sensoriais que pode se dar por três formas hiporreatividade, hiperreatividade e busca sensorial, alguns autores apontam uma quarta forma, a percepção aprimorada. A alteração sensorial ocorre por redução ou aumento da reação do individuo à estímulos, ou busca por estímulos de forma incomum.
Como qualquer outra alteração no desenvolvimento, os transtornos de processamento, pode afetar negativamente a vida das pessoas e na maioria das vezes passa despercebida, principalmente quando ocorre com bebês, crianças ou até adultos que têm dificuldade de comunicar o que está acontecendo com ele, seja por problema na comunicação (verbal ou não verbal) ou por não conseguir compreender e explicar o que está sentindo e qual é o incomodo.
Alguns exemplos são, quando ficam fascinadas por luzes, objetos que rodam, pouca sensibilidade ou hipersensibilidade à sons, texturas e cheiros, indiferença ao calor, frio ou dor, ou incomodo excessivo por estes mesmos. As alterações sensoriais podem ser mais de um tipo ao mesmo tempo, esses estímulos são recebidos pelo sistema nervoso central, e quando há problemas no processamento, o cérebro da pessoa processa a informação de forma diferente das pessoas que não possui o transtorno, causando a reação atípica ao estímulo.
A primeira vez que ouvi sobre o termo de Transtorno de Processamento Sensorial, foi na escolinha que meu filho frequenta. Minha cunhada, que é professora na escola que meu filho frequenta e ficava com ele algumas vezes, e eu também, já havíamos reparado que o Yohan se comportava um pouco diferente das outras crianças, nada muito extremo, mas era perceptível. Quando chamava por ele, ele ignorava, parecia que não ouvia e ou não dava atenção. Muitas pessoas, equivocadamente, considera que quando a criança não responde quando chamada, principalmente pequena, é "característica" da personalidade dela, uma pessoa que "não liga". A criança, quando começa a aprender a interagir com o adulto, ela vai olhar, tentar imitar, dar atenção, porque ela gosta da atenção que recebe do adulto, quando isso não ocorre é um sinal de alerta.
A minha cunhada falou com a Diretora da Escola sobre estas características diferentes, já que ela também é Fonoaudióloga e já havia trabalhado com crianças com necessidades especiais, e ela fez alguns testes, foi então que ela sugeriu a possibilidade dele ter Transtorno Sensorial. Falei com o Pediatra dele mas ele informou que pela idade dele, que estava com mais ou menos uns 7 meses, ainda era muito cedo para investigar, que deveríamos esperar um pouco mais para ele poder dar os encaminhamentos.
Como mãe curiosa que sou, passei a pesquisar sobre o tema, e vi pela primeira vez a associação do Transtorno de Processamento com o Autismo, como qualquer mãe, a ideia de qualquer dificuldade no desenvolvimento do filho, me deixou apavorada, mas nada eu poderia fazer naquele momento, pois só especialistas poderiam me auxiliar.
Foi a partir daí que comecei analisar a nossa trajetória até aquele momento. Coisas que aconteceram desde o nascimento dele, que de alguma forma eu sentia que não era normal, e hoje sei que ele estava tendo uma crise sensorial.
Se você leu meu post "Da gravidez ao parto" ,caso não tenha lido clique Aqui, vai lembrar do choro incontrolável que o Yohan teve ao sair da maternidade. Estava muito frio, eu fiquei esperando meu esposo no Pronto Atendimento, enquanto ele foi buscar o carro, havia muito barulho, tentei acalma-lo, amamentá-lo, tudo sem exito, depois de colocar ele no bebê conforto, alguns metros depois do carro andar, ele parou de chorar. Ah, mas todo bebê chora, claro que sim, mas posso afirmar que esse choro é diferente.
O segundo episódio de crise, foi quando fui na consulta de 1 mês de vida, o clima ainda estava um pouco frio, era Setembro, final do inverno, mas sabe aqueles dias em que do nada esquenta e fica abafado? Aí chove e esfria de novo? Pois bem, era um dia destes, saí de casa com o bebê agasalhado para a temperatura que estava no momento, mas quando cheguei na consulta a temperatura aumentou e ficou bem abafado. Ainda na sala de espera, ele começou a resmungar, mas dentro do consultório, estava bem quente, janela fechada, até eu fiquei incomodada com a temperatura. Então esse menino começou a chorar e não parou de forma alguma durante toda a consulta. Todo o tempo que o Pediatra o examinou, ele só chorava, um choro estridente, inconsolável. O pediatra me passou um sermão daqueles, me disse que não era pra ficar com meu filho no colo o tempo todo, que era para deixar ele chorar um pouco de vez em quando, que ele precisava aprender a ser independente da mãe, etc., etc., etc. Saí dali me sentindo um lixo de mãe e de pessoa, como se eu estivesse fazendo tudo errado, mas ao mesmo tempo eu não achava que eu estava sendo tão super protetora assim como o pediatra descreveu. Chorei muito por isso, pela falta de sensibilidade do Pediatra, por me achar incompetente, e claro, por culpa dos hormônios, grande vilão da mulher com relação a alterações de humor. Até procurei outro Pediatra, mas não deu certo, e acabamos continuando com o mesmo. Ele é muito competente, é médico de UTI Neonatal, tem bastante experiência, então pra mim é o que mais importa.
A segunda experiência foi bem parecida, eu havia ido na consulta do segundo mês, mas no consultório tudo ocorreu bem, era Outubro, a temperatura estava um pouco mais amena, porém vesti ele com body de manga comprida pois havia chovido e o tempo estava meio fresquinho, ao sair da consulta, minha irmã e eu, decidimos passar em uma Feira Beneficente que estava acontecendo no Parque da Uva, o tempo abafou bastante, e ele começou a ficar incomodado com o calor, decidi trocar a roupinha dele mas enquanto eu trocava ele começou a chorar muito, incontrolavelmente, e eu ouvia as pessoas fora do banheiro comentando, "será que aconteceu alguma coisa?", "eu acho que a criança caiu", "melhor ir lá ver o que está acontecendo", etc. Quando saí do banheiro com ele trocado, com um body de manda curta, um pouco mais fresco, parou de chorar, ao passar pelas pessoas que estavam fazendo comentários do lado de fora, ficaram me olhando com cara de julgamento. Eu apenas olhei, dei um sorriso como, "está tudo bem" e fui encontrar minha irmã na praça de alimentação. Ela comentou que dava pra ouvir bem alto ele chorar dali, que todos estavam comentando o choro dele e especulando o motivo. Fiquei com muita vergonha.
A terceira experiência foi quando fomos para Minas, no aniversário da filha da minha prima. Minha mãe, minha irmã, irmão eu e o Yohan, havíamos decidido ficar em um Hotel, para não incomodar minha prima pois estava na correria com os preparativos do aniversário, e muitos outros parentes também viriam para o aniversário, então achamos melhor deixar os mais velhos dormirem na casa dela, dos irmãos e da mãe. Também eu ficaria mais tranquila, porque o Yohan, a essa altura, já acordava a cada 3h para mamar, então eu não iria incomodar tanto. Fomos no aniversário, foi a primeira festa com bastante estímulos visuais, barulho, música alta que fui com o Yohan, para a nossa surpresa ele ficou super bem na festa, mas ao voltar para o Hotel, ele começou a chorar muito, nada acalmava ele, fiquei com receio de alguém reclamar. Então minha mãe sugeriu para eu dar outro banho nele, e foi sensacional, ele entrou na água e ficou calminho.
Essas três histórias aconteceram entre o nascimento dele, até quando tinha 4 meses de idade. Hoje, sabendo tudo o que aprendi sobre as crises sensoriais que ele já teve, sei que esses três episódios também foram crises. Como diferencio uma crise de um choro normal? Quando o bebê está com alguma crise, é um choro alto, estridente, permanece o tempo todo no pico do choro, quase tudo o que você fizer não dá resultado em acalmar o bebê, com o tempo você descobre uma ou mais coisas que podem acalmá-los, o banho é o que ajuda o Yohan a se regular. Um choro normal do bebê é meio inconstante, tem resmungos, picos de choro e choros mais baixos.
Fora esses episódios desesperadores para uma mãe, o Yohan não era um bebê que chorava muito, quando chorava era bem pouco, em uma altura até considerada baixo, parava rápido ao pegar no colo, ou ao amamentá-lo. Por isso as crises era tão desesperadora pra mim, porque fugia completamente do padrão de choro dele, mesmo quando ele estava doentinho não chorava da mesma maneira.
As vacinas, era e ainda é algo interessante, ele dá um resmungo alto, não chega a chorar, e já esquece, como se nada tivesse acontecido, mesmo quando fica dolorido o lugar, ele não dá atenção à dor. Ele adora luzes, músicas, mas em lugares novos, ele fica muito estimulado e agitado, essa característica de agitação apareceu depois que ele começou a andar. Tenho muitas outras histórias sobre as percepções sensoriais dele, mas vou contando aos poucos pois este post já está bem grande.
Espero que tenham gostado, que tenham aprendido, e aqui vai uma dica, coração de mãe não se engana, siga seu coração em tudo o que for fazer pelo seu filho. Certo ou errado, melhor ou não, é só você quem sabe, e que conhece seu bebê. Apesar do julgamento das pessoas doerem muito, tenha sempre em mente que você está fazendo o seu melhor, e aprendendo a cada dia uma coisa nova, aprendendo a conhecer e lidar com essa nova pessoinha que entrou na sua vida.
Quando ver uma mãe passando sufoco, tenha empatia, não julgue, afinal o que vemos nem sempre é o que parece ser.
Boa semana.
Gratidão
Vanessa Cristina Borato Mafra
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